Afinal outra educação é possível
Famílias, Crianças e Educadores/as Aprendem sobre Educação
Escrito por Eunice Macedo & Sofia Santos (English version: After all there is hope)
O evento Ser EducAção teve lugar nos dias 4, 5 e 6 de Setembro na pequena vila do Soajo, Gerês, no interior norte de Portugal. Participaram jovens pais e mães com as suas crianças, e jovens – e não tão jovens – educadores/as com interesse numa educação alternativa.
O encontro teve por objetivos refletir acerca de ‘como ser’, educar e agir na educação no sentido de providenciar – ou ser parte de – uma aprendizagem significativa. Destacamos da brochura do evento as intenções expressas de promover uma educação holística, participativa e sustentável; reforçar as redes entre famílias, educadores/as, crianças, projetos, residentes, serviços e organizações da comunidade na região norte de Portugal; contribuir para a criação de uma comunidade de aprendizagem no Soajo; dar visibilidade aos costumes da vila e ao seu desenvolvimento local. Estes objetivos surgiam de par com a oportunidade de explorar a natureza grotesca da região e de tirar partido de um fim-de-semana libertador, com lugar para a tomada de consciência e a inspiração (sereducacao.eventbrite.pt).
O ambiente era alegre e os debates tudo menos aborrecidos. Crianças e adultos brincavam por ali. Não havia gritaria nem necessidade de medidas disciplinadoras para manter as crianças sossegadas. Elas estavam a também divertir-se. Encontros informais e grupos de discussão, círculos de partilha e apresentações de projetos eram combinados com tempo para brincar e fazer caminhadas. Oficinas acerca de formas de aprender que apelam às emoções e ao corpo como um todo, como sensor integral para a aprendizagem, deram um toque particular ao evento.
Indo além do foco na transmissão de conteúdos definidos centralmente pelo sistema educativo nacional, na linha das orientações europeias, estas atividades provaram ser extremamente bem-sucedidas. Pessoas diversas com interesses diversos enriqueceram o evento fazendo parte do debate e defendendo as suas próprias experiências e crenças acerca da educação, vista como parte integrante da vida.
Algumas das pessoas presentes foram entrevistadas por duas investigadoras, convidadas para observar, ouvir, participar nas sessões e falar com as pessoas, no sentido de compreender e analisar as suas visões e expectativas. Na tensão entre a educação “que temos” e a educação “que queremos”, as principais preocupações expressas pelas pessoas entrevistadas relacionam-se com a existência de uma educação centrada no adulto que é surda e muda em relação à vida e às pessoas. A reclamação de uma educação holística baseada na participação na tomada de decisão, liberdade, realização pessoal e o amor pelas outras pessoas e pela mãe Terra foi a que se tornou mais evidente perante os nossos olhos.
Somos surpreendidas pelo olhar questionador das pessoas locais, sentadas no café central da aldeia. Quem são estes estranhos/estrangeiros? O que fazem aqui? Parecem ser as perguntas que os seus rostos levantam. Após algum tempo, talvez seduzidos pelas crianças estranhas e felizes e pelas oficinas centradas em tradições locais como tecer – com que as mulheres locais levaram participantes de fora da terra a por as mãos na aprendizagem – a distância entre locais e visitantes foi sendo reduzida. Parece ainda haver um mundo inteiro entre estes dois mundos diferentes que parecem viver o séc. XXI a velocidades distintas.
Promovido pela Associação Moving Cause e pelo Projeto Manta do Gato, este evento envolveu um leque amplo de entidades como o Projeto Escola Viva da Academia José Moreira da Silva, Cooperativa dos Pedreiros, o Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e o Instituto Paulo Freire de Portugal, para referir apena um muito pequeno número. A inscrição por donativo (consciente) foi outro aspeto interessante deste encontro que queria atrair todas as pessoas e que foi construído com base na confiança.
A título de síntese podemos dizer que o evento atingiu os seus objetivos e foi mais além. Afinal, há esperança para a educação e outro mundo parece ser possível.